segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A “complexidade” de Murad

Seria cômico se não fosse trágico ver e ouvir o deputado-secretário Ricardo Murad dando uma de expert em Saúde Pública e, pior, falando de moralidade pública. Como se pertencesse a um governo e a um grupo político éticos, probos.

Convidado pela Assembléia Legislativa do Estado – já que a nova maioria governista impediu uma convocação pura e simples -, por insistência do deputado Edivaldo Holanda, protagonizou um espetáculo à parte na sessão especial do parlamento de quarta-feira.

Mas, mesmo tentando falar difícil, esnobando termos como “média e alta complexidade”, ‘bipartite’ etc., Ricardo Murad escondeu o que o governo empossado de Roseana Sarney tem planejado para a Saúde Pública: tirar dinheiro do SUS daqueles municípios cujos prefeitos ainda não lhe disseram amém e ‘plantar’ prédios hospitalares onde a conveniência indicar, até que 2010 se esgote...

Em relação à famosa correção na distribuição de recursos do SUS – do governo federal, diga-se de passagem -, não teve outro objetivo senão aquinhoar melhor os aliados políticos em seus municípios. Para isso teve que forçar a barra para parir um novo conselho.

Como bem observou o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Marcelo Tavares, ao questionar Ricardo Murad, foi muita ‘coincidência’ que só municípios não alinhados ao Palácio dos Leões tenham as suas quotas de SUS reduzidas...

Porto Franco, Caxias, Presidente Dutra, Açailândia, Tuntum, só para citar alguns municípios, cujas lideranças eram extremamente ligadas ao ex-governador Jackson Lago ou a outros próceres oposicionistas, ao contrário da ‘justiça’ pregada na nova ‘repactuação’, caíram na desgraça da redução de verbas.

Numa outra vertente, ao anunciar a construção de vários novos hospitais, o atual governo só enxergou o alto custo financeiro para erigir prédios – valor que ultrapassa os 350 milhões de reais - e o que isso poderia render de dividendos políticos ou não para o grupo.

Também aqui não houve estudo algum de viabilidade técnica ou de localização desses hospitais; não foi observada a perspectiva da conjugação de ofertas assistenciais pela proximidade dos municípios ou a possibilidade de consórcios municipais, aí sim, para se oferecer serviços de alta complexidade dentro de um plano de regionalização.

A saúde pública do Maranhão é hoje um grande cabide apenas de oportunidades políticas. Não foca a população, não tem projetos executados que ataquem seus principais problemas mais crônicos, notadamente do ponto de vista da prevenção.

Assim, não é o linguajar “de alta e média complexidade” de Murad, usado para esconder os verdadeiros objetivos que o levaram para esse setor, que vai deixar pregada nos olhos dos maranhenses a venda que lhes querem pôr para não enxergar a verdade dos fatos.
Fonte: INFORME JP / Jornal Pequeno 21.08.09

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