quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

JM Cunha Santos escreve:

A posse:
À HORA DO CAPELOBO
JM Cunha Santos

Ela vai chegar após a meia-noite, depois das 12 badaladas “notúrnicas”, à hora das sombras, quando os gatos gemem e os cachorros calam a boca. Trará consigo alguns satanistas mal criados, desses que só chupam sangue sintético encomendado diretamente à Hemomar.


Ela chegará na hora em que os maus espíritos almoçam, quando aumenta o número de sentidos humanos, na hora de esconder, de camuflar, de fazer pagamentos ilegais, cumprir acordos incestuosos, se livrar de aliados incômodos e salvar a pátria dos amigos em débito com a Justiça.


Será precisamente na hora do cachorro doido, do urubu de asa quebrada, quando as sombras engolem as luzes, que ela lerá a Mensagem de Além Governo, além túmulo para os que dependem desse Sistema Estadual de Saúde arquitetado pelos descendentes de Esubiy.


No instante do marco zero, nesse em que os jabutis escondem as cabeças e as tartarugas disputam corridas de obstáculos, ela virá, vestida soturnamente, qual uma maldição desdentada sobre o povo, cumprir seu destino de dar ordens e vencer disputas, provocar dissidências, destruir partidos políticos e assassinar ideais.


Na hora do pânico, naquela mesma em que forças ocultas agem para reforçar trabalhos de amarração, trará seu Deus, o Bita, para afastar os desistentes, eliminar os condenados, fazer sofrer os que resistem. Quem for médium verá pretos velhos mergulhados em tachos de enxofre, escolas caindo, hospitais desmoronando, presos fugindo e ouvirá gritos de horror e fome porque ninguém será feliz à sua passagem.


Será na hora dos despachos, das galinhas velhas destroncadas, das velas pretas, dos ponteiros duros, das cores cinzas e da carne em decomposição, quando os desempregados choram e os partos não dão certo que ela tomará posse de todos vocês.


A partir daí estarão todos submetidos às exigências dos capelobos, dos vampiros e lobishomens por mais 50 dias, 50 anos, 50 séculos, quem poderá dizer?

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