sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

JM CUNHA SANTOS ESCREVE: A DOR ALHEIA

Socorrão, centro da cidade, 10 horas da manhã. Uma multidão chega do interior depois de percorrer quilômetros. Pernas quebradas, braços tortos, fígados rompidos, costelas partidas, baços inchados, ataques cardíacos, ânsia de vômito e todas as doenças que se puder imaginar. Mistura-se aos doentes de São Luís. O hospital está cheio. Todos os hospitais da nova metrópole estão cheios. Os do Estado foram fechados para reforma e a maioria dos funcionários dispensados por conta de uma política de terceirização que só revela incompetência e incompetência cada vez mais.


Madrugada de sábado. Uma sirene insistente incomoda os ouvidos. Uma mulher grávida e assustada, mais assustada do que grávida tal é o desmantelo no Sistema Estadual de Saúde, com dificuldades de parto, sem plano de prevenção, procura uma maternidade para dar a luz. Pode ser que encontre uma vaga, mas o mais provável é que não. Terá seu filho aonde Deus quiser.


Em outra ambulância, a sirene corta o silêncio da noite. Um homem baleado por assaltantes busca socorro de emergência. Ele precisa de sangue, ele precisa retirar a bala que pode lhe ceifar a vida. Não há médicos de plantão. Eles foram demitidos ou afastados e até lhes propuseram trabalhar pela metade do salário. O homem só poderá ser tratado nos socorrões do município, se vagas ainda houver. Os hospitais do Estado, nós sabemos, foram fechados para reforma e nunca mais pararam de reformar.


Meia-noite de segunda-feira. Em uma das mansões do Calhau uma unha encravada acorda o grande empresário da construção civil cujos contratos com o Governo garantem a posse do jatinho estacionado no hangar do aeroporto. Ele sonega impostos, burla a previdência, corrompe funcionários públicos, mas é imediatamente transferido para um Centro Ortopédico de São Paulo e em seguida para New York onde, se duvidar, vai ganhar até um dedo novo.


Em São Luís, o prefeito tenta construir um novo Hospital de Emergência. Não pode. Uma gang de luxo em disputa por votos decidiu impedir. Como pode alguém perseguir dessa forma a dor alheia?

Nota do Blog.: E no resto do Maranhão o que era de excepcional - se é que pode se chamar de excepcionalidade, doença - está um caos, um deus nos acuda. Hospitais públicos sucateados por conta das divergências políticas. E o povo? ah! o povo, deixa prá lá. Eleições agora só em 2012.

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