sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Parque da miséria

JM Cunha Santos
Miséria é o filho apenas assistindo ao lanche de outras crianças na cantina do colégio. Miséria é passear no shopping decorando os preços de coisas que nunca se vai poder comprar. Miséria é não ter roupa para ir ao Shopping.


Miséria é vender o corpo em troca de um prato de comida, é não ter dinheiro para pagar a passagem do ônibus, é estar entre tantos prédios e não ter onde dormir. Miséria é desejar e não poder ter daquele que tem tanto que nem consegue desejar.


Miséria é não ir à igreja porque não tem dinheiro para o dízimo. Miséria é panela vazia e falta de panelas, é o trem zarpando entre os gritos dos que pedem esmola. Miséria é a falta de trabalho e de formação profissional.


Miséria é o cheiro de comida na casa vizinha, é a dor explodindo e não poder comprar o analgésico, é a imensa fila do hospital que não aguarda por sua dor. Miséria é a farda escolar puída e envergonhada, é o voto vendido em troca de um ventilador.


Miséria é a faca no pescoço e a pistola no ouvido, é a humilhação pública de não se sentir cidadão. Miséria é limpar carros nos sinais de trânsito, é aguardar restos nas portas dos restaurantes, é suar de fome ouvindo os urros dos bois.


Miséria é a rua alheia, a casa alheia, o hospital alheio, a igreja alheia, a escola alheia enquanto se procura um lugar. Miséria são aquelas crianças bem lavadas no Show da Xuxa se fedemos por falta um pedaço de sabão. É a noite que vem e volta sem portas e janelas para fechar.


Miséria é aquela música nos lábios do bebê sem leite, é a mãe seca e o pai desempregado, é o grito de horror das prisões e sanatórios públicos. Miséria é essa falta de sapatos no caminho, esse lugar sem teto e essa terra sem plantio, essa alma rasgada e esse coração tão triste e tão sem fúria que não dá pra governar.

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