sexta-feira, 18 de março de 2011

Os gritos de Thamires


JM Cunha Santos

Lembro o filme “Tempo de Matar”, no qual uma adolescente negra é seviciada, estropiada, espancada, por racistas da Ku Klux Kan num daqueles territórios norte-americanos nos quais negros não são considerados gente. Uma dessas cloacas nas quais existe licença para matar pessoas consideradas de raça inferior pela elite no poder.

Lembro que o pai da moça, que acabaria fuzilando os assassinos em pleno tribunal, contratou um advogado de pele branca e avisou que o fazia para vencer um júri todo constituído de brancos racistas, porque o advogado era “igual a eles”, os jurados. O advogado se exasperava, porque não via meios vencer aquele processo. Até que uma luz lhe acendeu no cérebro e ele se dirigiu mais ou menos dessa forma aos jurados:

- Imaginem que uma criança de 14 anos volta do colégio e no meio do caminho é confrontada por quatro homens. Ela é humilhada, insultada, sobre ela atiram latas de cerveja. Em seguida é seviciada, estuprada uma, duas, três, quatro vezes por aqueles monstros. Ela grita, mas naquele beco vazio e solitário ninguém a ouve. Ela pede socorro e chora, mas é inútil.

O advogado, em seguida, pede aos jurados que fechem os olhos e prossegue na sua réplica, ou tréplica, como queiram os juristas.

- Imaginem que essa criança vai para casa e aos gritos, ardendo em febre, sentindo dores. insuportáveis, arqueja e morre nos braços do pai...

Agora imaginem que ela é branca!

Eu imagino os gritos de Thamires, naquela cela de uma delegacia distante de sua casa, aonde ninguém a conhece e só os presos podem ouvi-la. Eu a imagino subjugada, estropiada, torturada, espancada até a morte, para que, em seguida, simulem seu suicídio. Eu imagino e me dirijo à governadora do Estado, ao senhor Secretário de Segurança Pública, aos juízes desse Estado e digo:

- Agora imaginem que Thamires é filha de um de vocês.

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